
Com uma produção anual em torno de 700 mil toneladas ao ano, o Brasil é o maior produtor e consumidor de maracujá do mundo. Parte significativa dessa produção se encontra no estado do Ceará, onde pesquisadores desenvolveram um estudo que observou a diminuição do forrageamento das abelhas Mamangavas sobre duas espécies de maracujá, provocada pelo aumento das temperaturas.
O estudo “Climate change may disrupt crop pollination in the Neotropics: rising temperatures lead carpenter bees to avoid pollinating passion fruit flowers” (Mudanças climáticas podem prejudicar polinização das culturas nos Neotrópicos: aumento das temperaturas leva abelhas Mamangavas a evitar a polinização das flores do maracujá), que contribui para compreender o impacto das mudanças climáticas sobre o comportamento das abelhas, será apresentado na 49a edição da Apimondia, em Copenhague, na Dinamarca.
A pesquisa foi orientada pelo engenheiro agrônomo, doutor em Abelhas e Polinização e professor da Universidade Federal do Ceará, Breno Freitas, no município de Maranguape. O assunto foi tema da dissertação de Mestrado de Letícia Ferreira Paiva, defendida em 2023.
Também participaram do estudo os pesquisadores Epifânia Emanuela Macedo Rocha, Felipe Jackson de Farias-Silva, Vitória Inna Mary de Sousa Muniz, Larysson Feitosa dos Santos, Luciano Pinheiro da Silva, todos do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará.
Aquecimento global e polinização
Os resultados sugerem que o aquecimento global pode comprometer o serviço ecossistêmico de polinização das abelhas, afetando a produtividade, o peso do fruto, da polpa e o número de sementes. Os pesquisadores observaram que as abelhas mamangavas (Xylocopa frontalis) evitaram forragear flores de duas espécies de maracujá (Passiflora edulis and P. cincinnata), pois com o aumento da temperatura ambiente há também um aumento elevado da temperatura corporal ao longo do dia, chegando a valores que a abelha não suporta e para de trabalhar para evitar o superaquecimento.
Os pesquisadores verificaram uma redução na frequência e na duração das visitas das abelhas às flores nas horas mais quentes do dia. A redução na frequência e duração das visitas às flores também foi constatada na comparação entre as estações seca e chuvosa. Essa mudança no comportamento das abelhas prejudica sua eficiência como polinizador e é especialmente preocupante para a espécie de maracujá P. edulis (maracujá amarelo), cujas flores abrem ao meio-dia e têm apenas algumas horas da tarde para serem polinizadas.
Cuidados para o futuro
Com o avanço da velocidade das mudanças climáticas – em oposição à morosidade para combatê-las – pesquisadores têm empreendido esforços para identificar as espécies de abelhas mais ameaçadas e as áreas que serão adequadas para as abelhas e cultivos no futuro. A partir daí, eles têm trabalhado para manter as condições dessas áreas estáveis. “Outra possível solução é recuperar áreas degradadas, preferencialmente próximas aos cultivos para permitir corredores ecológicos que fornecerão abelhas para esses cultivos quando florescerem. Além disso, o desenvolvimento de técnicas de criatório e manejo para as diversas espécies de abelhas brasileiras, seja em condições naturais ou em criatório racional, dependendo de cada espécie e estratégia mais adequada” relata Breno Freitas.
Em 2025, a A.B.E.L.H.A. está sendo representada por três pesquisadores que integram o Comitê Científico da Associação na 49a Apimondia, o maior evento global de apicultura e meliponicultura, entre os dias 23 e 27 de setembro. São eles: o engenheiro agrônomo, doutor em Abelhas e Polinização e professor da Universidade Federal do Ceará, Breno Freitas; o biólogo, doutor em Entomologia e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Cristiano Menezes, e o engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e pesquisador da Embrapa Soja, Décio Gazzoni. Com o lema “Unity and knowledge sharing” (União e partilha de conhecimento), a Apimondia ressalta o objetivo de promover o intercâmbio global de informações e práticas da apicultura e meliponicultura.
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