"Os bons ideais aproximam as pessoas que olham o mundo não apenas para si, mas para todos"Rivaldo R. Ribeiro

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1 de junho de 2013

Biocombustível, o equívoco suicida, artigo de Maurício Gomide Martins.

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 Resultado na atmosfera depois das queimadas, isso é combustível limpo?
OBS.Fotos datada 04/2013- Rivaldo R.Ribeiro, anexada a esse artigo para ilustrar o tema.

Nossos assuntos em defesa do meio ambiente geralmente versam sobre a Terra, o todo, o planeta. Hoje, o foco de nossa conversa vai ser a terra, fração daquela mesma Terra, substância que em grande parte cobre a superfície dos continentes. É muito comum e conhecida de quase todos. Talvez por isso não se lhe dão a importante atenção que merece. Merece porque é o sustentáculo do habitat, no qual reina direta ou indiretamente, de toda a vida que conhecemos.

Partimos do princípio de que não existe milagre. Tudo que existe é efeito de alguma causa. Pois bem, façamos um exercício mental. Imaginemos que em um terreno de 1m² plantamos um grão de milho. Após, ocorrem alguns fatos notáveis, verdadeiros milagres da Natureza. A planta ali nascida suga do solo parte dos elementos químicos de que necessita para manter a vida. Do ar, retira outros que, em combinação com a energia solar, lhe dão condições de transformá-los em tecido ou estrutura preparatória para a reprodução, objetivo de sua existência. Produzidas suas espigas, são elas arrancadas e comidas por um homem, sobrando naturalmente toda a estrutura esquelética.

O normal seria esse cadáver vegetal ser mantido no local e, após, revertido aos elementos químico primários pela ação dos agentes microbianos, o que devolveria ao solo grande parte do que foi dali retirado. Mas, usualmente, em função dos interesses econômicos, ele é queimado, ou usado como ração de bovinos, ou tem outra destinação imprópria, o que é compreensível sob a concepção das estratégias econômicas, pois “tempo é dinheiro” e o local tem que ficar limpo para novo plantio.

Situação daquele terreno: ficou desfalcado em sais minerais correspondentes a um pé de milho, compreendida toda a sua estrutura e o produto final, as sementes – seus filhos. Nosso homem da labuta rural conhece bem esse fenômeno, mas apenas na sua conseqüência, quando diz: “esse terreno está cansado”, que traduzimos para “esse terreno está esgotado, desfalcado de elementos básicos, pobre, deficiente, imprestável, causado pela atividade agrícola intensiva, ambiciosa, desordenada e inconseqüente”.

De outro lado, o homem que se alimentou das espigas absorveu parte dos elementos de que tratamos e mandou para o esgoto o restante. Essa borra final foi levada pelos rios para a foz, onde se acumulou no leito subaquático. Resumo da história: com suas ações, o homem retira uma parte dos elementos químicos da terra e a acumula no oceano. Isso se chama transformar uma estrutura produtiva em outra estéril.

Esse é um exemplo de apenas um pé de milho. Imagine-se a realidade, que se assenta em cultivo de bilhões de plantas alimentícias temporárias. No conjunto, com muita gente, chuva em terra nua e máquinas como personagens, transformamos grande quantidade de elementos químicos, contidos na terra, em alimentos orgânicos. Eles nos são úteis porque nos mantêm vivos, mas que afinal são parte poluidora do ar e parte descartada no mar, num processo de irracional desperdício da matéria prima posta à nossa disposição pela Natureza. Esses elementos da terra são vida, sustentam a humanidade; não são energia para locomoção, finalidade contrária aos planos naturais.

O que é terra? É a rocha decomposta. Um conjunto de rochas leva aproximadamente 200 anos para se transformar, por desgaste, em uma camada de apenas 10 cm de terra. É um processo lento face à rapidez com que é convertida e esbanjada pela cobiça do sistema econômico.

Transformar os recursos naturais da terra em alimento tem a sua justificativa, não obstante a agricultura moderna empregar ações imediatistas inteiramente irracionais. Mas transformar alimento em combustível (energia locomotora) é o paroxismo da irracionalidade. Àqueles que seguem os ensinamentos religiosos, esses objetivos se constituem em verdadeiro pecado. Deixa Deus saber disso!

Enquanto temos, segundo as últimas estatísticas, 1,5 milhões de pessoas passando fome, estamos preocupados com o deslocamento desnecessário de bens e pessoas, isto é, com o conforto que fermenta o individualismo e gera lucro ao sistema econômico.

Alega-se que o petróleo é esgotável e o biocombustível, não. Como procuramos arrazoar acima, o simples cultivo de plantas alimentícias já é, em si, sumamente esgotável; agora para a produção de biocombustível o é mais ainda. E muito mais destrutível, pois pede áreas imensas de terra para cultivo, provocando rápido esgotamento e maior desnudamento desses espaços. Tudo em nome dos objetivos do ganha-ganha do sistema econômico da atual civilização.

Pois que se esgotem os recursos petrolíferos que são subterrâneos e desnecessários à vida, mas se preservem os recursos naturais dos seres vivos, postos em função da necessidade básica de sobrevivência. Todos os povos primitivos cultuavam a terra como a uma deusa, reconhecendo-a como a doadora de vida. Que profunda sabedoria! Nós, os homens modernos inteligentes e donos das verdades, a tratamos com desprezo e degradação, deixando-a sem a pele protetora (desmate), com chagas deformantes (mineração) e esterilidade irreversível (desertificação). É o mesmo que desprezar a vida na sua expressão universal.

Nesse quadro de loucuras e desgoverno do planeta, enxergamos o momento em que teremos motoristas sentindo imensa fome, mas alegres e satisfeitos por estarem dirigindo em alta velocidade – rumo ao suicídio – um último modelo de automóvel movido pelo que lhe falta no estômago.

Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.


Fonte:EcoDebate,publicando em 25/05/2010, mas nunca deixa de ser atual.


8 de maio de 2011

O biocombustível e a fome, artigo de Sergio Sebold

Todos nós temos consciência de que as reservas de petróleo são finitas. Segundo analistas e especialistas nesta área, existe ainda petróleo para os próximos 40 anos dentro dos padrões de consumo atual (75 milhões barris/dia), que em termos de tempo é extremamente exíguo. Por outro lado, o que nos choca é pensar que a natureza levou milhões, talvez bilhões de anos fermentando nas entranhas da terra para se transformar neste precioso líquido que a civilização dos anos recentes está transformando tudo em fumaça ou em produtos que levarão centenas de anos para serem digeridos novamente pela mesma mãe natureza.

Pelo conceito do “sino” de Hilbert, já alcançamos a curva superior em termos de reservas. A não ser que descobertas surpreendentes façam mudar este quadro, a civilização do petróleo está chegando ao seu fim, isto é, durou apenas trezentos anos. Diante deste quadro da extinção próxima do petróleo, o homem se atira desesperadamente, em furar a barriga de nossa mãe terra, cada vez mais profunda na busca deste precioso líquido.

Com os preços do petróleo acima de US$ 100,00 o barril, começou tornar-se viáveis outras alternativas de energia onde uma delas é o da biomassa. No desespero, para não dizer despreparo ou falta de visão das elites políticas, se lançam naquela alternativa que esteja mais próxima, ou seja, solução de curto prazo: Biocombustivel. A natureza nos oferece miríades de possibilidades neste campo, principalmente aqueles que para consumo humano são tóxicos, que poderiam ser opções valiosas como o óleo de mamona e de tungue entre outras.

A insanidade do ser humano, na busca de lucros imediatos, encontrou a solução justamente naqueles produtos nobres de consumo enérgico humano que são a cana de açúcar, o milho, oleaginosas comestíveis (soja) etc. Ou seja, estamos desviando a energia do ser humano, para uso em fins industriais e mais particularmente em combustível para automóvel. Diante deste absurdo, toda a cadeia alimentar do ser humano, pela lógica de mercado, os preços irão para as nuvens. É fácil raciocinar que milhões (talvez bilhões) de seres humanos serão sacrificados, pela força dos preços de mercado a morrerem de fome, para que outros milhões possam andar impunemente de automóveis ou adquirindo bens para satisfazerem seus sonhos e prazeres lúdicos.

Sem perda de generalidades com outras fontes de energia mais barata e menos poluente, a busca alternativa dos chamados biocombustíveis, tem se revelado como uma oportunidade de eficiência promissora, se os atuais preços do petróleo no mercado continuarem em ascensão, mas que tenhamos ao mesmo tempo superprodução de alimentos.

A grande questão está centrada no fator ambiental. O raciocínio é obvio, se a produção de alimentos for desviada para o combustível, teremos (talvez) um preço para estes mais barato, mas em contra partida o preço dos alimentos serão elevados a níveis socialmente insuportáveis. Haverá assim uma população reduzida com os confortos da civilização contra um exército de miseráveis de pires na mão. Em outros termos, o fosso entre ricos e pobres (ou miseráveis) será simplesmente humilhante. Jacques Diouf presidente da FAO, alerta para os biocombustíveis como o maior responsável pelo aumento geral dos preços dos alimentos no mundo, embora não seja a única, diante das catástrofes climáticas que estamos presenciando.

Se por outro lado, for explorado outras fontes para combustível de massa biológica não consumível pelo ser humano, veremos grandes áreas devastada para seu plantio comprometendo cada vez mais a biodiversidade. A não ser que tenhamos bom senso de explorar imensas áreas de deserto em todo o mundo com a utilização da tecnologia hoje disponível em termos agrícola.

Estamos diante do paradoxo do petróleo, embora as quantidades sejam limitadas que leva a condição de extinção, ele jamais será consumido totalmente em decorrência do efeito mercado. Ou seja, a medida do esgotamento das reservas o preço assumirá valores tão elevados, onde neste caso outras formas de energia serão utilizadas, de sorte que as reservas jamais serão esgotadas.

Sergio Sebold – Economista e Professor de Pós-Graduação do ICPG/UNIASSELVI – Blumenau – SC – sebold@terra.com.br


Artigo socializado pela ALAI, América Latina en Movimiento e publicado pelo EcoDebate, 28/04/2011

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19 de novembro de 2010

Biocombustíveis fazem mais mal ao clima que fósseis, diz estudo.

Cultura de cana de açucar.

Estudo mostrou que o biocombustível adicional a ser usado na Europa ao longo da próxima década irá gerar entre 81 e 167 por cento a mais de dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis.

Os planos europeus de promoção dos biocombustíveis levarão os agricultores a converterem 69 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa em lavouras, reduzindo a oferta de alimentos aos pobres e acelerando a mudança climática, segundo um relatório divulgado por ambientalistas na segunda-feira.

De acordo com esse estudo, o biocombustível adicional a ser usado na Europa ao longo da próxima década irá gerar entre 81 e 167 por cento a mais de dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis.

Nove entidades ambientais chegaram a essa conclusão depois de analisarem dados oficiais relativos à meta da União Europeia de que até 2020 os combustíveis renováveis representem 10 por cento do total usado em transportes no bloco.

A equipe energética da Comissão Europeia, que formulou tal meta, argumentou que o impacto não será tão grande, porque os biocombustíveis serão extraídos principalmente de plantações em terras agrícolas atualmente abandonadas na Europa e na Ásia.

Novas estimativas científicas lançadas neste ano colocam em dúvida a sustentabilidade da meta dos 10 por cento, mas autoridades energéticas da UE afirmam que apenas dois terços da meta será alcançada pelos biocombustíveis, e que veículos elétricos, alimentados por fontes renováveis, oferecerão um equilíbrio.

No entanto, estratégias nacionais de energias renováveis publicadas até agora por 23 dos 27 países da UE mostram que até 2020 9,5 por cento dos combustíveis usados nos transportes devem ser biocombustíveis, e que 90 por cento disso virá de cultivos alimentares, segundo o relatório.

O debate gira em torno de um novo conceito, conhecido como "mudança indireta do uso fundiário."

Basicamente, isso significa que transformar uma lavoura de grãos em cultivo de matéria-prima para biocombustíveis fará alguém, em algum lugar, passar fome, caso essas toneladas de grãos a menos não passarem a ser cultivadas em outro lugar.

Os fundamentos econômicos sugerem que esse déficit alimentar seria suprido com a ampliação da fronteira agrícola para áreas tropicais, o que implicaria a destruição de florestas -- um processo que pode gerar enormes emissões de gases do efeito estufa, pela queima ou apodrecimento das árvores, revertendo eventuais benefícios que os biocombustíveis deveriam trazer.

O relatório diz que a estratégia da UE para os biocombustíveis poderia gerar 27 a 56 milhões de toneladas adicionais de gases do efeito estufa por ano. No pior cenário, isso seria equivalente a colocar 26 milhões de carros nas estradas europeias, diz o estudo.

Produtores tradicionais de biocombustíveis argumentam que a UE não deveria alterar suas políticas de promoção dos biocombustíveis levando em conta as novas estimativas científicas, porque estas ainda são incertas.

"Qualquer política pública baseada em resultados tão altamente contestáveis seria facilmente desafiada na Organização Mundial do Comércio," disse o representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Emmanuel Desplechin.
FONTE:
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA