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26 de julho de 2021

Termo ‘savanização’ precisa ser revisto nos discursos sobre degradação florestal

Associar a savana à ideia equivocada de que esta seria uma vegetação degradada e pobre favorece o discurso de que não há nada a ser conservado
RAISA PINA · LÍVIA CARVALHO MOURA ·
23 de julho de 2021

O mundo gira, o tempo passa, a humanidade avança em compreensões científicas e a população atualiza suas práticas. É assim que caminhamos como sociedade. Como já cantou Belchior, “o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Hoje pedimos encarecidamente que parem de usar uma roupa que outrora foi moda, mas que agora encontra-se mofada e parcialmente devorada por percevejos. Esta roupa é o termo “savanização” usado como sinônimo de degradação de florestas.

Apresentadas nas narrativas socioambientais mais frequentes como um tipo de vegetação deteriorada, convalescida, empobrecida, que ocorre quando áreas florestais são degradadas por incêndios ou desmatamento, as savanas são associadas a uma imagem pejorativa que não condiz com sua real condição.
As savanas são um tipo de vegetação cuja origem não tem a ver com o desmatamento na Amazônia. Elas existem há milênios de anos com características próprias: são ricas em biodiversidade. O Brasil possui a savana mais biodiversa do mundo, o Cerrado, que concentra 5% da diversidade de fauna e flora do planeta. Só no país, o bioma abriga 30% das espécies nacionais, muitas que só podem ser encontradas no Cerrado.

São ipês, barus, pequis, flores sempre-vivas, lobos, tamanduás, peixes, araras e um sem fim de espécies que convivem na savana brasileira com povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, apanhadoras de flores sempre-vivas, retireiros do Araguaia, fecheiros, pescadores artesanais, geraizeiros e tantos outros povos.

Associar a savana à ideia equivocada de que esta seria uma vegetação degradada e pobre favorece o discurso de que não há nada a ser conservado, justificativa para que o avanço descontrolado do agronegócio possa entrar em ação. De acordo com o Mapbiomas Alerta 2020, do total de desmatamento do Brasil, 31,2% da área devastada correspondem à região do Cerrado, cuja velocidade de desmatamento segue superior à da Amazônia.

A savana brasileira precisa ser olhada com mais atenção, até porque é principalmente dela que partem os alimentos e a água que abastecem a sociedade de norte a sul. O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) publicou uma nota de esclarecimento com mais detalhes sobre a necessidade de substituição do termo savanização para se referir a degradação florestal. 
A nota foi transformada em vídeo de dois minutos, que acaba de ser lançado:

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